Estava um dia destes em casa a desfolhar seguramente pela milésima vez a minha colecção de fotografias e tirando uma ou outra ainda me recordava do jogo em questão e da época em que se realizou.
As faixas de quase todos os grupos, muitas vezes me passam pela cabeça, lembro-me de as desenhar nos cadernos da escola, como aquela mítica faixa dos Diabos que dizia KORPS, ou uma das bandeiras que nunca mais me esqueci, a do Lucky Luck da Juve Leo.
Isto seria até pouco representativo se ao me lembrar de tudo isto não me acorda-se também do nome de quase todos os jogadores, dos golos que marcaram, do estilo que impunham, a maneira de correr do Néné, as luvas do Alves, as cabeçadas do Jordão, os golos do Gomes, as fintas do Chalana, etc...
Quase todos nós, ultras, não fariamos má figura no programa da S.I.C. da hora do almoço. Pertencemos ao jogo por direito próprio, fazemos a distinção entre o desporto chamado futebol e o maior espectáculo do mundo chamado futebol.
Sem nós, ADEPTOS, este seria apenas mais um desporto como o ténis de mesa, divertido para quem pratica. Nós fazemos dele a festa, e acima de tudo uma maneira de estar na vida, vivemos as derrotas, celebramos as vitórias, mas sobretudo não deixamos de estar presentes, mesmo quando o melhor jogador da equipa troca de clube por dinheiro, ou o treinador erra na equipa que escolheu para o desafio, mesmo ainda quando o árbitro apita escandalosamente.
Sem nós o Futebol seria apenas mais um jogo, e por tal já está mais do que na hora de sermos tratados como parte importante do espectáculo, não gozarem com o esforço que fazemos todos os meses em guardar dinheiro para não deixar-mos de estar presentes nos desafios, de os jogadores saudarem o público com afecto, de os Presidentes aceitarem as claques como parte integrantes dos clubes pois na maioria dos casos somos o maior grupo de associados do mesmo e podemos muito bem boicotar uma assembleia geral.
Temos direito ao jogo, porque muito mais do que qualquer outro agente fomos nós que o criámos, já chega de termos atitudes passivas e vermos os nossos clubes a serem destruídos. Aqui fica uma ideia, para a primeira jornada do mês de Março, todos os grupos colocarem uma faixa com os seguintes dizeres:
MASSA ANÓNIMA ≠ SOCIEDADE ANÓNIMA
Pipa
Revista SUPER ULTRA, Fevereiro de 1997
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