sexta-feira, 27 de junho de 2014

Diário de um ULTRA - Por PIPA


Conheço-me à alguns anos como ultra, como muitos gostam de dizer poderia mesmo envergar a camisola da velha guarda do movimento, mas hoje não é disto de que vos quero falar.
Durante anos sempre gostei de ler, escrever, enfim exercitar o pensamento e sempre achei graça a aqueles cronistas de jornais e revistas que por vezes quando ficavam sem assunto, e escreviam sobre isso mesmo.

HOJE NÃO TENHO ASSUNTO

Quando lá pela 35ª vez a rapaziada da revista me ligava a dizer que só faltava o meu artigo para sair a revista meti mãos à cabeça e perguntei...
- O que será que me está a acontecer?...
Faz já algum tempo que não conheço um grupo novo (não por falta de procura) para vos falar sobre ele, já à algum que não vejo uma revista ou fanzine que me faz perder as estribeiras. Como uma daquelas histórias fabulosas de deslocações como a minha preferida dos Devils do Bordéus que perseguiram um bando de Ovelhas num campo.
Estou a ficar velho e já nem ligarei às coisas novas que têm vindo a acontecer no movimento, mas não noto nada de novo, os pseudo-ultras continuam parvos como sempre, os que se preocupam continuam a ocupar-se, as coreografias estão cada vez mais na mesma tirando uma ou outra frase mais inteligente.
E de repente passou-me pela cabeça que provavelmente estaria a ficar cansado de tudo isto, ou que tinha outras coisas com que me preocupar como pedir um aumento ao patrão, acordar mais cedo porque não existe um dia em que não entre no trabalho mesmo depois da hora como aqueles jogos em que o homemzinho vestido de negro tarda em apitar para acabar com o espectáculo (que por vezes chega aa parecer um comprimido para dormir).
Pelo menos atravessamos um momento, ou melhor pelos vistos esta época parece um daqueles sábado à noite em que ficamos até ao fim da noite com a intenção de conhecer a mulher da nossa vida e nada, voltamos para casa num vazio angustiante. Assim começou esta época quente e com muitas promessas que logo se transformaram em tédio.
Um dos meus melhores amigos que já cá não se encontra, na pior época do grupo a que faço parte, quando por vezes nos encontravamos uns cinco com mais faixas penduradas do que pessoas atrás delas dizia que hoje estamos poucos mas estamos e que um dia seria melhor porque pior mesmo não poderiamos estar.
Penso que a minha falta de assunto se deve ao movimento em si, este ano ainda não nos conseguimos surpreender a nós quer pela negativa como no ano passado o fizemos na final da taça, após a bela época onde se confirmaram grandes grupos e novos grupos.
Agora que o calor começa a surgir de novo aos Domingos por favor comecem-me a dar motivos para escrever de novo, odeiem ou amem as minhas crónicas como amam ou detestam os vossos clubes e rivais mas dêem-me motivos.
Saudações ultras

Pipa
Revista SUPER ULTRA, Março 1997