terça-feira, 27 de agosto de 2013

Diário de um ULTRA - Ainda a Vergonha da Final da Taça


A pergunta que todos nós devemos fazer é se vale a pena, como brilhantemente questionaram os No Name depois da sua ida a Parma. A resposta foi dada por um dos poetas mais adorados. Fernando Pessoa:
- Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Não sei porque realmente fui ao Jamor ver a Final da Taça de Portugal, ou melhor, é algo que a razão não explica. Não jogava o meu clube, o preço do bilhete e da viagem, mais as cervejas são sempre mais um rombo, no parco orçamento mensal, mas estão lá os amigos e com os amigos se vai.
E uma final da taça é sempre um grande jogo, independentemente da cor clubística, é sempre um dia mágico na nossa vida. E mágico estava a ser. 
Não sei se será do "peso" dos anos aquando do disparo do primeiro "Very-light", senti que algo não iria acabar bem nesse jogo e comentei-o com o Bernardo, antigo membro dos D.V. Norte.
Uns minutos mais tarde deu-se o disparo fatal, do qual acompanhei a trajectória e na altura do impacto pensei apenas em quantas pessoas iriam morrer. Quando olhei para o lado reparei que no lugar onde estava, apenas o Bernardo se tinha, como eu, apercebido da gravidade da situação. Desci em direcção à rede, estavam todos lá aqueles que de domingo a domingo celebram a fé do movimento, uns a chorar, outros, nem chorar conseguiam, abanavam a cabeça, e perguntavam-se como eu perguntei dezenas de vezes - PORQUÊ???
Não quero fazer destes momentos que vi, um episódio de uma telenovela mexicana. Quero afirmar com eles, é que só nestas alturas é que nos apercebemos de como algumas pessoas conseguem desacreditar os nossos valores e já chega, temos que dizer basta à ingenuidade de alguns ultras que continuam a não pôr em causa a gravidade das situações.
O que aconteceu no Jamor foi uma acção criminosa. Se se pode pôr em causa que o disparo foi acidental, não me compete a mim julgar mas à pessoa que o fez, não nos podemos esquecer e que é do conhecimento geral, com a agravante de aclamarem várias vezes em praça pública, que era a própria Direcção do principal grupo da Luz, os No Name Boys. Porque se ninguém tem a coragem para o afirmar, eu afirmo-o porque a hipocrisia é o que todos temos feito ao ficar calados, quem comprava os "Rockets" e os vendia e utilizava, um pouco como imagem de marca.
O crime não foi de quem cometeu o disparo, o crime foi de quem levou estas armas para dentro do estádio e as distribuiu. Já não chega culpar a polícia, cada vez que um criminoso introduz uma bomba num aeroporto onde o controlo policial é bastante apertado, não se culpa a polícia, são movidos processos contra acções criminosas.
MOVIMENTO, também significa evolução de ideias e não é o movimento que temos que desacreditar são as mentalidades que têm de evoluir. Não se acabam com todas as claques porque algumas estão mal, os ultras não deixam de existir porque alguns deles cometem erros. O que não podemos continuar a ser é arrogantes e pensarmos que o nosso umbigo é o centro do mundo. Mais tarde experimentamos os dissabores. A ironia é uma boa arma quando não varremos o pó para debaixo do tapete porque doutra maneira pode ser um tiro mal direccionado que acaba por matar inocentes amantes do futebol e do movimento. 
Pegando um pouco nas perguntas do Miguel Saial o que será dos Jovens do Arrifanense quando quiserem fazer uma claque - desordeiros, assassínos, criminosos, são as palavras que foram dadas por alguns ultras do movimento. Eu proponho Amizade, Paixão clubística, Magia, partilhar a vontade de vencer. E são estas palavras que nós os ultras, não os melhores nem os piores, mas os que acreditam ainda devemos dar a conhecer sem ter vergonha de passar por "maricas" ou "Fábio´s Bruno´s", ou pior, teóricos do movimento.
- Vale a pena continuar???
Tentamos responder como dizem os "Da Weasel" - Com a alma de Domingo para Domingo!

Pipa
Revista SUPER ULTRA, Dezembro de 1996





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